Tinha que ser nós dois


Era uma menina
De passos largos, mas presentes
Que passava sempre na mesma rua
Reinventando sorrisos
Encontrando um mesmo olhar

Entre cumprimentos
Eis que conheceu a cumplicidade
O sentir além do querer
O receio sem razão
Ou a razão com muito receio

Apesar de um sentimento formado
As circunstâncias foram agressivas
Estar junto não era permitido
E a vida foi tomando novos rumos
Dando espaço a outros protagonistas

Ah! O tempo passou
E em um novo momento
Os olhares primários voltaram a se encontrar
Talvez mais intensos
E ao mesmo tempo dispostos

Foram quinze anos
Dias distintos
Estações imprecisas
Idas e vindas
Risos remodelados

A menina virou mulher
O menino, o homem dela
Não havia nada que impedisse a cena
As mãos se uniram
Os corpos se encaixaram

A espera ficou para trás e o espetáculo teve início
A fotógrafa se entregou ao tatuador
Com a certeza de que o amor só poderia existir
Se eles fizessem parte do mesmo ato

* Esta poesia eu dedico ao casal Cris Fernandes e Timba. São singelas palavras, mas que descrevem um grande amor. Desejo muitas felicidades e que o casamento só venha a selar ainda mais o sentimento nutrido pelos dois. Felicidades, sempre!!!!

Doce chuva

O vento sopra forte
As nuvens perdem a timidez
Os pingos começam a cair
E a lembrança surge sem pedir licença

Minha alma sente frio
O coração troveja em meio à saudade
Houve-se o silêncio
E o corpo mesmo calado ainda soluça

Os olhos se fecham
E a mercê da sorte te encontro
Te vejo tão perto
Te sinto tão meu

De mãos dadas caminhamos
Colorindo sentimentos
Trocando risadas inocentes
Roubando a razão que não tem razão

Em meio ao clarão
Você me abraça, me conforta
Meu mundo desaba no seu
Nossos corpos se encontram para se perderem

Hum!!!
Não quero sentir o gosto salgado da realidade
Quero chuva, doce chuva que desvia a espera
Que sempre me traz você

Menina Mulher


Ah!
No espelho a essência se reflete
O olhar se torna mais intenso
O vermelho invade a boca

O rosto miúdo fica camuflado
Perde-se em perfumes ousados
Saboreia momentos antes tão inocentes
Faz sonhos optarem pelo salto alto

Tropeça nos próprios limites
Sopra o vento que insiste em trazer saudade
Esconde do escuro tão infantil
Engolindo soluços mimados

Opta por uma maturidade que consegue rir
Que não se preocupa com confissões
Que não se cala no passar das estações
Nem se sacia com carícias hipócritas

Estremece diante do correr tão livre
Que faz do “esperar” apenas um verbo
Mostrando que a mulher de hoje
Vive a suspirar pela menina que nunca se foi